De Alberto Lopes

O velho desdentado ria-se enquanto falava. Então não se está mesmo a ver? O mundo sempre foi assim: todas as guerras até hoje tiveram a mesma razão: há gente a mais e não há maneira de haver interesses para todos. Eu, por exemplo, não tenho interesses. Tenho esta terra, estou preso aqui e, de vez em quando, como terra, outras vezes como pedras: é o que tenho... Um homem é como uma árvore, é do sítio onde está. Há homens que mudam de sítio e não percebem que, quando deixam de ser árvores, perdem as raízes e por isso deixam de ser... O homem ria-se levemente: há coisas tão evidentes que não deviam precisar de ser explicadas. Mas não: por uma razão qualquer as coisas simples têm de ser explicadas com paciência; muitas vezes, muito mais vezes e com muito mais pormenor do que devia ser. Mas, mesmo assim, nem sempre se consegue. Os homens pertencem à terra, tal e qual como as árvores, portanto o dono da terra é o dono dos homens. Mas as árvores têm um segredo: conhecem o tempo e, por isso, fazem a sua vida quase sem sobressaltos. As árvores não pensam em mudar de terra porque, com o tempo, a terra faz parte da árvore... então, tanto faz esta terra como outra qualquer. Estar é mais do que onde. A paz podia durar sempre, mas o dono da terra é o dono da paz. Há guerra quando a terra se esgota e o dono da terra procura um culpado. De resto, a paz é como as árvores: está na terra, não é dos homens.
foto de Zapa

Comentários