Foram "os reis e os heróis" que a fizeram, que chamaram entre si a empresa de resolverem entre eles o conflito que provocou a partida da Bela Helena. Aparentemente, uma vez dado o seu consentimento, esta nada mais tem a fazer na história. Um homem é acusado de a ter raptado, um outro quer recuperá-la e toda a máquina política, militar e económica se encarrega de resolver o problema. Helena não entra aí, ao que parece. Ela aceitou simplesmente partir, acontecimento em relação ao qual, de resto, nem todos os helenistas estão de acordo, alguns considerando que ela teria sido forçada por Páris .
É importante insistir nisto : nesta história, Helena, por assim dizer nada faz. Todo o seu destino parece ser traçado não únicamente pelos deuses, como o acreditavam os Gregos da época, mas sim pelos homens que a rodeiam. Ela escolheu por duas vezes: a primeira vez, desposar Menelau, e a segunda, abandoná-lo, outro exemplo da sua dificuldade em determinar o seu próprio destino, em saber o que quer. Incapaz de tomar uma decisão e de se conformar com ela, gira como um catavento. Evidentemente, trata-se de uma história escrita por uma longa tradição de homens que contribuiram, com as suas narrativas, para implantarem imagens de mulheres com as quais elas hoje já não se querem identificar(...)Com efeito o que revela esta história? Que as mulheres se deixaram manobrar ao longo dos séculos , individual ou colectivamente. Não se trata aqui de julgar as atitudes de uns e de outros, do mesmo modo que não se trata de tentar corrigir uma história que ainda não foi escrita. Trata-se simplesmente de procurar as raízes do mal -estar que elas hoje sentem frequentemente: "não sei o que quero" ,"parece-me que uma parte de mim não responde verdadeiramente àquilo que estou a viver"... etc. Estas frases ligam-se ao que poderíamos chamar aqui o complexo da bela helena, mulher de quem , para além de se dizer que era bela, pouco se falou.
in O Medo do Grande Amor, Louise Poissant
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