... depois da tempestade a depressão

MIGUEL – Os que viverem cem, duzentos anos depois de nós vão desprezar-nos por termos vivido as nossas vidas de maneira tão estúpida e ordinária – e esses, se calhar, já terão encontrado o método para serem felizes; mas nós... Tu e eu temos apenas uma esperança. A esperança de que, quando estivermos nos nossos caixões, nos vão aparecer visões, talvez mesmo agradáveis... Mas não tentes desviar-me do assunto. Devolve aquilo que me tiraste.
VÂNIA – Não te tirei nada.
MIGUEL – Sónia, o seu tio roubou-me um frasco de morfina da mala e não mo quer devolver. Diga-lhe palavra de honra, que não está a ser nada inteligente.
SÓNIA – Devolve-a. Para que nos assustas? Devolve-a, tio! Eu não sou com certeza menos infeliz do que tu és, mas não desespero. Aguento, e vou aguentar até que a minha vida acabe naturalmente... Aguenta!

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